sábado, 19 de junho de 2010

O monólogo da janela aberta em N.Y.

O calor da cidade fazia mais por mim do que toda a minha vontade.

Deitado naquele jardim de bairro, olhava eu, para um céu nuanceado de nuvens difusas e fininhas, quando me dei conta de que havia uma janela aberta a olhar para mim.

As cortinas a esvoaçarem, produziam uma fala de descodificação fácil, porque melodiosa. O escuro no interior, acolchoava os sons que o vento conseguia soprar. Chegou até mim. Eu, que ali estava, surpreendido porque as folhas nas árvores de tão sossegadas, pareciam ausentes, deixei-me encantar pelo momento, e deixei-o que as palavras que não era preciso dizer, se desenhassem nos contornos do meu sorriso, acabadinho de nascer.

Elas, brancas e eu, incolor, na minha insignificância.
Ambos, quedos.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Suspenso em Rattanakiri

Andar descalço em cima de um passadiço e sentir o espaço entre as tábuas dá-me um frisson que me recorda sempre uma travessia que fui obrigado a fazer no meio das árvores debaixo de uma chuva tropical.

Era quase de manhã e o calor era uma espécie de mel. Empastelava-me e, quase que podia sentir a concentração de água em cada poro. Fechar os olhos dava uma dimensão irreal aquele estado e fazia daquele ser, ali encharcado, um insignificante nada.

Talvez pela densidade da sensação, hoje, quando chove, ainda continuo a sentir ao de leve a evaporação da água ao escorrer sobre mim.

E gosto.