sábado, 30 de outubro de 2010

Hopeless place

Rodeado pelos seres vivos mais antigos do mundo, doía-me muito estar ali, naquele local estreito de vistas e gelado pela impossibilidade.

Atrás de mim, havia uns ramos de árvores a cobrir um céu carregado de frio e aos meus pés, a entrada escura de uma mina.

De permeio, ouvia-se a minha voz a perguntar-me:
“Afinal, esventramo-nos para quê?”

Arrebatadas pelas palavras de uma canção, que se ouvia baixinho, mas cada vez mais próxima, as minhas, penduraram-se no vento e ali se deixaram ficar.

O dia era azul, o local prefiro mantê-lo incógnito, embora isso não me alivie.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Lá para os lados de 天山

A perspectiva de poder subir aqueles mil metros todos, levou-me a dizer que sim.

O mês estava cheio de um algodão que se espalhava à minha volta como se fosse uma espécie de exército branco resistindo à implantação da nova ordem.

Os dias do mês serviam de compartimentos para os arrumos de toda aquela produção de Gossypium que, esvoaçava em movimentos suaves, ali mesmo onde eu me encontrava.

Ali, era um lugar assim, onde se ouvia uma fala de raízes altaicas, enquanto as minhas mãos se abriam.

Ali, era um lugar assim, onde uma rede hidrográfica que corria para sudoeste, não tinha saída para o mar, ainda que as minhas mãos estivessem abertas.

Ali, era um lugar assim, onde por via dos tiques czaristas que teimavam em sobressair, ou por via de qualquer outra irrelevância, havia uma "natural light displays in the sky".

A rota da seda, essa, passava a sul de mim.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Enquanto sobrevoo o Atlântico

Há anos que guardo comigo uma frase hermética de tão adjectivada.

Li-a, num dia de verão (sei que era verão porque cheirava a palha), no sotão de uma casa de campo (sei que era no campo pelo barulho do silêncio), numa contracapa dura de um livro azul (sei que o era, embora não me lembre da cor).

Guardei-a e nunca lhe dei uso. Não gosto de citações e ainda menos de falar do que me é imcompreensível. Mas, por estes dias, tenho pensado nela enquanto me concentro para não ter pena de mim próprio e, por isso, talvez a tenha, finalmente, compreendido.

Agora sei definir-me: um personagem sem utilidade nenhuma que guarda uma frase sem interesse nenhum.

De resto, o mundo existe. Eu existo, mas ele não parece reparar.