sexta-feira, 25 de maio de 2012

Azul e cheio de sal

Tendo andado num mar azul profundo e quase escuro, sem amarrações impeditivas de enfrentar as feridas salgadas, fartei-me de ser eu mas nem por isso deixei de o ser.

Do que ficou e do que se foi não tenho a noção do tamanho nem dos sais residuais que continuarei a encontrar.

Porquanto a água me deixe boiar e o sol não me desidrate, continuarei, não longe do triângulo das Bermudas.




sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

domingo, 12 de dezembro de 2010

Nos imediações de Belgrado

A missão era de paz mas eu não a tinha.

Mesmo assim aceitei-a e fui. Fui até chegar a uns quantos fusos horários depois, cheios de ervas, a cheirar a humidade, protegidos por bidons e poeira. Nada que chegasse para me pacificar.

Por obrigação, tive que me instalar na cidade Branca e ouvi-los. Falavam demais. Para me compensarem - julgo que tenha sido, mas pode apenas ter sido porque e não para - deram-me um quarto com vista para o Danúbio de onde podia ver as minhas aspirações penduradas nas estrelas, quando as havia.

As poucas horas de sono, numa cama que eu não queria, completavam o meu cenário de missão.

Tendo por companhia, os reflexos das luzes néon que me entravam pela janela, assim me gastava, a perpetuar a vida que me dei.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Jazz dentro de mim em Cap Cod

Depois de muitos kms ao volante, os néons de um lugar no meio do nada, quase que me ordenaram que ali me detivesse.

Era verão e eu estava muito longe de casa e ainda mais de mim próprio.

Talvez por isso, estacionei mesmo à frente de uma tabuleta de madeira (lembro-me da corrente que a suspendia e dos 3 nós que deixavam adivinhar a idade do tronco que já tinha sido) e desliguei os faróis.

A lua estava cheia e The Duck Creeke Tavern também.

A atmosfera era um pouco dark, os personagens surpreendentemente interessantes e eu, que não tenho interesse nenhum nem sou ninguém, senti-me bem ali, provavelmente porque o pianista de Jazz me surpreendeu com uma música das minhas, como se a tivesse tirado de dentro de mim.

Completamente embalado pelo mar e pelos sons de um Air A Danser que o pianista repetidamente tocava, entalado num local que se viria a revelar estranho, consegui adormecer.

Nessa noite sim, adormeci. Tinha-te ali.

domingo, 14 de novembro de 2010

Os bailes da memória das noites no Serengeti

Quando me mandam para África, eu vou.

Não tenho por hábito discutir ordens e nada tenho contra a autoridade. Coisas!

Numa dessas idas, mais uma vez, senti quanto a imensão de algo grandioso, me deixa a pairar numa espécie de espaço-tempo cheio de partículas vulcanicas trazidas pelos ventos. Algo, dificil de definir para alguém dono de uma natureza densa e porosa como eu.

Respirava-se o calor do fim do dia, havia um silêncio salpicado aqui e ali pela suave brisa e eu tinha sede.

Sentei-me debaixo das acácias, cobri-me de camadas e camadas de sons de guitarras que faziam rodopiar as folhas enquanto, a mim, apenas me sustinham vivo.

Nesse preciso momento, paleontologicamente falando, eu que, algures na minha vida, devo ter feito um pacto com a gravidade, senti uma enorme vontade de trepar pelos ramos.

Não o fiz e continuei sentado, acompanhado pelas memórias, sempre à mão quando delas se precisa. Talvez por saber que aquelas que me dão motivos para acordar e que, sendo as mais voláteis, são exactamente as que mais se impregnam, adormeci.

Talvez consiga viver mais anos, agora que me movo a inércia.

sábado, 30 de outubro de 2010

Hopeless place

Rodeado pelos seres vivos mais antigos do mundo, doía-me muito estar ali, naquele local estreito de vistas e gelado pela impossibilidade.

Atrás de mim, havia uns ramos de árvores a cobrir um céu carregado de frio e aos meus pés, a entrada escura de uma mina.

De permeio, ouvia-se a minha voz a perguntar-me:
“Afinal, esventramo-nos para quê?”

Arrebatadas pelas palavras de uma canção, que se ouvia baixinho, mas cada vez mais próxima, as minhas, penduraram-se no vento e ali se deixaram ficar.

O dia era azul, o local prefiro mantê-lo incógnito, embora isso não me alivie.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Lá para os lados de 天山

A perspectiva de poder subir aqueles mil metros todos, levou-me a dizer que sim.

O mês estava cheio de um algodão que se espalhava à minha volta como se fosse uma espécie de exército branco resistindo à implantação da nova ordem.

Os dias do mês serviam de compartimentos para os arrumos de toda aquela produção de Gossypium que, esvoaçava em movimentos suaves, ali mesmo onde eu me encontrava.

Ali, era um lugar assim, onde se ouvia uma fala de raízes altaicas, enquanto as minhas mãos se abriam.

Ali, era um lugar assim, onde uma rede hidrográfica que corria para sudoeste, não tinha saída para o mar, ainda que as minhas mãos estivessem abertas.

Ali, era um lugar assim, onde por via dos tiques czaristas que teimavam em sobressair, ou por via de qualquer outra irrelevância, havia uma "natural light displays in the sky".

A rota da seda, essa, passava a sul de mim.